Esta é uma contribuição do Matheus Lucas, hoje na 703. Ele foi à feira de São Cristóvão e se lembrou das nossas aulas!
Observem a ausência de pontuação e elaborem uma hipótese que explique isso...
A intriga do cachorro com o gato
Autor: José Pacheco
Xilogravura: J. Borges
A intriga é mãe da raiva
O meu pensamento é pai
Da casa da malquerença
O desmantelo não sai
Enquanto a intriga rende
A revolução não cai
Quando o cachorro
falava
Gato falava também
Gato tinha uma bodega
Como hoje os
homens têm
Onde vendia cachaça
Encostado a um armazém.
Com uma balança armada
Para pesar cereais
Em sua bodega vendia
Bacalhau, açúcar e gás
Bolacha, café, manteiga
Miudezas e tudo mais
Quando no tempo de safra
Comprava mercadoria
Chegava no armazém
Que todo bicho trazia
Vou dizer, pela metade
dessa grande freguesia.
O peru vendia milho
Porco feijão e farinha
Com um cacho de bananas
Mais tarde o macaco vinha
Raposa também trazia
Um garajau de galinha
Carneiro passava a noite
Junto com sua irmã
Descaroçando algodão
Quando era de manhã
Para o armazém do gato
Botava sacos de lã.
Guariba vendia escova
Que fazia do bigode
Urubu vendia
goma
Porque tem de lavra e pode
A onça suçuarana
Vendia couro de
bode
Então todo bicho tinha
No armazém seu contrato
Porém eu vou
deixar disso
Para tratar de outro fato
Relativando a intriga
Do
cachorro com o gato.
Rei leão mandou cachorro
Efetuar uma prisão
E o cachorro passando
Na venda do gato então
Falou pra beber fiado
E o gato disse: Pois não
Subiu-se na prateleira
Uma garrada desceu
Um cruzado de
cachaça
O cachorro ali bebeu
Botou fumo no cachimbo
Pediu fogo e
acendeu.
Depois ele disse ao gato
Eu vou prender o preá
Porque carregou a
filha
Do compadre cangambá
E mesmo já deve a honra
Da filha do seu
guará
E tornou dizer: – Compadre
Bote mais uma bicada
Eu só sei
prender valente
Depois da gata esporada
O gato sorriu e disse
Esta
não lhe custa nada.
O gato bebeu também
O cachorro repetiu
Botou o copo no banco
Saiu na porta e cuspiu
O gato puxou um lenço
Limpou a barba e tossiu
Embebedaram-se ambos
Garrafas secaram três
Cachorro fez um
discurso
Falando na língua inglês
Gato embolava no chão
Também
falando em francês.
A gata mulher do gato
saiu do quarto e veio cá
E disse muito
zangada
– Cês tem procedência má
O gato disse: – Mulher
Da porta
do meio pra lá
Depois o gato ficou
O cachorro foi-se embora
Ali
ouviram: – Ó de casa!
A gata disse: Ó de fora
Quem é? Respondeu a
raposa
– Sou eu, que cheguei agora.
Disseram entre comadre
E o gato levantou-se
Sentou-se numa
cadeira
Raposa também sentou-se
Ele contou à raposa
De que forma
embebedou-se
Raposa disse: – Compadre
Você não pensa direito
Bebendo com o cachorro
Um safado sem respeito
Se seus amigos
souberem
O senhor perde o conceito.
-Beba com seus amigos
Seu irmão maracujá
O tenente porco-espinho
E o capitão guará
Major porco e doutor burro
E coronel cangambá
– Eu também gosto de troça
Beijo, dança e digo loas
Mas com gente
igual a mim
Civilizadas e boas
Eu que não ando com gente
De
qualidades à toas.
- Só me dou com gente boa
Com o compadre urubu
Dona Ticada de
Souza
E dona surucucu
E a professora jiboia
E o meu primo timbu
Você é conceituada
Da roda palaciana
Cachorro vive na rua
Tanto
furta como engana
E com baralho no bolso
Jogando e tomando cana.
Ele só compra fiado
Porque quer, pois ele tem
Uma mochila de
níquel
Que por detrás se vê bem
Pendurada, balançando
Porém não
paga a ninguém
O gato pondo-se em pé
Perguntou-lhe admirado
–
Compadre isso é verdade?
Ele me deve um cruzado
Eu não dei fé na
mochila
Por isso vendi fiado.
- Porém eu vou atrás dele
Aquele cara estradeiro
Dou-lhe um bote
na mochila
Arranco e tiro o dinheiro
– Se fosse eu – disse a raposa
– Passava-lhe o granadeiro
O gato se preparou
Amarrou o cinturão
Correu as balas no rifle
Passou lixa no facão
Botou um porre e bebeu
De cachaça com limão
Chegou lá e disse ao cachorro
– É triste o nosso progresso
Você
paga o meu cruzado
Ou quer que eu pague um processo
Cachorro afastou
o pé
E lhe disse: – Eu não converso
Ali deu-lhe um tiro e disse
–
É assim que eu despacho.
Porém o gato abaixou-se
Passou-lhe o rifle
por baixo
Deu-lhe uma balada certa
Que quase derruba o cacho.
O cachorro que também
Tem pontaria fiel
Tornou passar-lhe a
pistola
A bala fez um revel
Cortou-lhe o rabo no tronco
Que lhe
descobriu o anel
Depois que trocaram tiros
Divertiram no punhal
Gato pulava de costas
E dava salto mortal
O cachorro por sua vez
Também traquejava igual
E ali trincou-se o tempo
Na porta do barracão
Da baronesa
preguiça
Comadre do rei Leão
E ela telegrafou-lhe
Pedindo paz na
questão
O leão passou depressa
Um telegrama pra trás
– Minha
comadre levante
A bandeira e grite paz
Ela não tinha bandeira
Levantou a macaxeira
Ali ninguém brigou mais.
Garajau: Cesto em que se transportam aves e peixe seco.
Guariba: Espécie de primata que tem nos dois lados da face pêlos que parecem barba..
Os outros cordéis que circularam pela sala podem ser encontrados aqui, na "cordelteca":
http://www.cnfcp.gov.br/interna.php?ID_Secao=65
Divirtam-se!
Amei essa cordelteca,e os textos sao mt legais!!!!
ResponderExcluirO texto que eu gostei foi O Dinheiro (o testamento do cachorro), porque eu achei bem humorado e vi um lado de critica também , mas estou com dificuldade porque quando eu leio sai em ritmo de rap já que eu ouço muito.
ResponderExcluirPoxa muito bom adorei
ResponderExcluirInteressante...
ResponderExcluirAchei bem legal o cordel, ainda mais que eu gosto muito de rima em textos, música e etc. professora aonde acontece as batalhas do cordel achei muito maneiro esse cordel com isso estou interessado em ver uma batalha de cordel se for possível fala onde ocorre essas batalhas. Aluno:Victor Berbat. Turma:606; Turno: Tarde
ResponderExcluirprofessora ja comentei e gostei astante do cordel
ResponderExcluirachei muito divertida a história do cordel, é ainda mais interessante pois eu gosto de fazer rimas, poemas...E eu já li um folheto de cordel, minha avó tem um e vou tentar leva-lo para aula que vem.Aluno: Daniel Ferreira. Turma:606.
ResponderExcluirLeva sim!
ResponderExcluirMuito legal e significativo!Adorei o texto!
ResponderExcluirMuito legal! Achei legal o "confronto" que há entre eles,tendo uma parte cômica e a outra com uma indireta de crítica.Inclusive a xilogravura que há no começo (provavelmente da capa do cordel) já diz mais ou menos do que se trata no cordel.Existem mais xilogravura desse cordel?! Aluna:Emanuela Fonseca/Turma:602
ResponderExcluirNão, só na capa mesmo!
ExcluirEu achei muito bom e meio divertido...
ResponderExcluirEu gostei muito desse cordel.
ResponderExcluirO autor deve ter escrito assim, sem quase nenhuma pontuação, para dar uma idéia de aproximação para o leitor.(eu acho)
Explica melhor...
ExcluirProfessora eu adorei esse cordel . Leva este cordel para a escola, por favor . Eu sou da turma 604 .
ResponderExcluirProfessora, sinceramente eu não gostei muito do cordel, eu não vejo graça nenhuma, acho chato. Aluna: Juliana Turma:602
ResponderExcluirQue pena, Juliana. Talvez você não tenha achado ainda um cordel com um assunto que tenha te interessado. De qualquer maneira, é preciso estar aberto para conhecer coisas novas. E entender e respeitar a produção de quem é diferente de você.
Excluirmaneiro Ass: Brenno
ResponderExcluirEu também já freguentei a feira de são cristovão tenho uns cordéis.
ResponderExcluirQuem quiser é só falar!!!